- Palavras de Fé

Dom Roque

Dom Aloísio Roque Oppermann scj - Arcebispo de Uberaba, MG
e-mail:
www.arquidiocesedeuberaba.org.br

O QUE BUSCAMOS NA VIDA DE FÉ?

A convergência mais forte da atividade moderna, que se impôs de maneira muito forte, é a economia. “A alma da vida são os negócios”. Basta prestarmos atenção em que ocupamos a maior parte do nosso tempo.  Existem outras forças que, momentaneamente, podem chamar a si a preponderância das motivações, como a sexualidade, a ideologia política, a conquista do poder, e mesmo a cultura e a religião.  Mas o mundo das finanças é quase uma obrigação geral. O sustento da vida nos leva ao trabalho e à busca do lucro. Passamos o dia planejando, interferindo na natureza, calculando, e produzindo. As idéias mais sublimes, os planos mais abstratos, ou a motivação mais religiosa, tudo chega ao momento de aterrissar, e aí entra fatalmente o dinheiro. Este é uma grande invenção humana, e não um ato pecaminoso e inglório. Se existem abusos, roubos, e opressões, isto é o momento dois, que pode ser pecaminoso. O momento um é a utilidade indiscutível da atividade econômica, que consiste em comprar, produzir, vender, trabalhar e consumir. “Quem recebe bens de Deus, considere isso um dom divino” (Ecl 5, 18).


É ESFORÇO, ESPERTEZA, OU DOM?

Com grande sabedoria o Concílio encorajou a Igreja a estabelecer diálogo com o mundo moderno, e com as grandes religiões. Houve enormes tentativas. Mas até parece que, quanto maiores os esforços, menores os resultados. Vejamos só o gigantesco esforço desse homem aberto, que foi João Paulo II. Diante de erros históricos, cometidos por homens da Igreja, como o processo de Galileu, a inquisição  espanhola, certas guerras de religião, o Papa pediu desculpas diante do mundo. Alguém perdoou? Parece que não. Doze anos depois os ataques continuam, quase do mesmo jeito. É tão vantajoso bater em alguém que não tem a mínima condição de retribuir...Se todos seguissem o maravilhoso exemplo do Papa, como o mundo seria diferente. Não ficariam, travadas na garganta, as vozes de vingança, prestes a explodir. “Perdoai os vossos inimigos”,  dizia Jesus. Isso daria condições de zerar os nossos conflitos, e recomeçar.


PODERÁ HAVER PAZ ENTRE IGREJA E CULTURA GAY?

A última parada gay, acontecida em São Paulo no mês de junho, não parece antecipar grandes bonanças. Apesar das turbulências, vamos procurar refletir um pouco. Antes de tudo, busquemos luz no âmbito da culpa moral. Podemos condenar as pessoas do mesmo sexo quando praticam atos sexuais entre si? É preciso saber que a predisposição homoafetiva não provém de carga genética mas -  segundo tudo indica -   é estabelecida por influências educativas externas. Quanto se saiba, nenhum homossexual o é, por escolha pessoal. A certa altura da vida o indivíduo se reconhece, não atraído para pessoa do outro sexo, mas sentindo afeto profundo por pessoa do seu próprio quadro sexual. A Igreja, baseando-se nos ensinamentos bíblicos, declara que isso é um ato desordenado, por se contrapor ao próprio aparelho genital masculino e feminino. Mas isso não determina o grau de pecado que as pessoas cometem. Sem estimular tais atos, podemos dizer que seu grau de culpa é reduzido. “Quem não tem pecado atire a primeira pedra”(Jo 8, 7).


POR QUE DEUS É UM SER ESCONDIDO?

Como a vida seria diferente se Deus fosse uma divindade“a ser tocada com as mãos”. Seria a evidência. Não precisaríamos de provas sobre a sua existência. Neste sonho bastaria fazer-lhe um pedido, para sermos atendidos mais do que de repente. Temos um inimigo? O Poderoso logo o afastaria. Temos dívidas? O socorro mágico aconteceria antes do pôr do sol. Somos acometidos por uma doença?  Feito o pedido de cura, num piscar de olhos o mal estaria superado. Mas Deus é um Ser que confia na inteligência humana. O homem pode chegar a Deus a duras penas, às apalpadelas. “Como cegos vamos tateando como quem não enxerga” (Is 59, 10). Isso nos dá ocasião para expressarmos , que é um ato meritório, por depender de nossa livre vontade. O delírio fantasioso, acima descrito, seria um puro “encantamento”. Seríamos obrigados a crer. Assim como a Providência dispôs, baseamo-nos numa intuição muito forte de que este Ser Poderoso tem que existir, e lhe devemos profundo respeito. E com amor nos consideramos profundamente ligados a Ele.  


OS SACRAMENTOS AGEM NO INCONSCIENTE?

Em conversa com distinta psicóloga de Brasília, levantamos a questão sobre a eventual ação dos sacramentos da Igreja no âmbito profundo da alma, influência que está fora do comando direto da consciência. Eu dizia que muitos pais estão certos quando desejam o batismo de seus filhos, em tenra idade. Mesmo que pensem menos na graça santificante, e na inserção no corpo da Igreja - que é o apanágio dos filhos de Deus - e mais num efeito psicológico no inconsciente. Essa não é uma preocupação primordial da prática sacramental. Mas pode ser um mimo do Pai Eterno para com seus filhos, que não pode ser desprezado. A criança que é batizada, está junto à sua família e junto com outros membros da comunidade. Assim ela “descobre” que é muito importante. “Sabe” que é amada por todos. Não é amada só pela sua família, mas também pelos outros: padrinhos, Padre, equipe celebrativa. Sabe que o Poderoso gosta dela. Conclusão da criança: “todos gostam de mim”. Podemos desejar melhor consciência de autoestima do que esta?


VAI SOBRAR PARA NÓS

O casamento religioso de William e Kate, no dia 29 de abril de 2011, foi coisa de sonho. A realeza britânica tentou se superar em organização, solenidade e significado social. O sentido do evento se prestou para confirmar o sistema monárquico da Grã Bretanha, ao mesmo tempo refletindo um governo tradicional e moderno. O aparato foi charmoso, encantador, quase hipnótico. Aliás, aconteceu tudo o que Deus não faz para  nos  levar a um ato consciente de fé. O Criador não nos encanta, nem nos arrebata para aderirmos a ele, sem um ato refletido da mente. Nem por isso a monarquia britânica está proibida de fazer o que fez. Parece que ela desperta um arquétipo, presente no inconsciente da humanidade. Os reis, e sobretudo as rainhas (no caso a princesa) são seres quase divinos, acima das perturbações  da vida. São uma espécie de deusas, de fadas. Tudo o que fazem e falam, a sua maneira de vestir, viram lei não promulgada.


UM GRANDE DESAFIO (a começar, para os jovens)

O casamento religioso detém uma sabedoria milenar. “Este mistério é grande: eu me refiro a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 32). A união “no Senhor” vem do paraíso, dos primeiros pais.  É vontade do Criador. Mas o mundo moderno está perdendo essa graça divina. Vejam só.  Numa das nossas Paróquias, nos idos de 1980, o número de casamentos era de uma média de 300/ano. Hoje se reduziram a uns 40. Ninguém imagine que os noivos só buscam mais as igrejas mais bonitas. Nestas também a diminuição foi drástica.  Hoje, sem deixar sequer um sobrenome certo para os filhos, a maioria dos jovens se ajuntam. Antigamente se dizia sem rebuços: se amasiavam.  Pelas leis da Igreja, esse casal vive em situação de pecado. Portanto, sua Eucaristia não é legítima. Chegaremos a um tempo em que haverá poucas Comunhões Eucarísticas autênticas. Os casais de união apenas consensual,tem a tendência de se tornarem as habituais. Eis que nessa situação, não foi “Deus que os uniu”. Logo, não dando certo, se pode iniciar legalmente outra experiência, sem dor de consciência.


NUNCA É DEMAIS LEMBRAR

Somos seres irrequietos, com uma curiosidade insaciável. Isso nos permite encontrar respostas para os mistérios do universo. Somos sem descanso nos nossos porquês. Até os meninos querem abrir os brinquedos, para saber como funcionam. (E nós achamos que eles estão estragando os presentes...). Mas a pergunta suprema é de cunho metafísico: qual o sentido da vida?  O cristão se pergunta: de que meios posso me valer para crescer na fé? Como posso ter respostas para os anseios da alma?  O que pode alimentar a minha espiritualidade? Mesmo com caridosas advertências dos Bispos, muitos fiéis se aproximam de águas contaminadas pelas fantasias humanas, ou de alimentos que não contém nenhuma substância para nos fortalecer. Refiro-me ao duvidoso apelo às visões e manifestações particulares. “Dei leite a vocês, não alimento sólido”         (1 Cor 3,2). Se numa região existem 1.000 aparições, seguramente 999 são falsas, provenientes de pessoas ingênuas, visionárias, ou até de má fé. Mas então, o que realmente pode nos ajudar à abertura para uma fé robusta?


PRESCRIÇÕES QUE DÃO VIDA

Antes do Concílio se falava muito nos 5 mandamentos da Igreja. Todos os conheciam de cor. Tais mandamentos, na verdade, não estão literalmente nas Sagradas Escrituras, mas tem a sua raiz nelas. Não foram criados do nada. Hoje não me parece ser um assunto conhecido, conscientemente, pelo povo cristão. Tinham um objetivo didático, facilitando um resumo rápido das práticas cristãs mais necessárias. Uma vez que na Catequese se proibiu a “decoreba”, também se perdeu o rico conteúdo desse resumo. “Não pensem que eu vim abolir a lei e os profetas” (Mt 5, 17). O silêncio sobre a temática é geral. Não ouço comentários sobre o assunto, há muitos anos. Penso que nem se sabe mais quantos são esses mandamentos, nem se ainda estão em vigor. Consultando o “Catecismo da Igreja Católica” vi que no seu número 2041 se fala explicitamente dessas obrigações da vida comunitária. Sua observância só traz benefícios. “Tudo o que ligardes na terra, ligado será nos céus” (Mt 18, 18). Isso dizia Jesus aos Apóstolos, e continua dizendo hoje aos Bispos.


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