Seções » Especial
Cultura da cana de açúcar, benefícios ou prejuízos para a nossa região?
Publicado em 20/08/07
Por: José Carlos da Silva*
Não podemos conter o avanço da tecnologia aplicado sobre a cultura da cana, pois estamos no meio do ciclo produtivo. Temos vários exemplos de ciclos produtivos na agricultura e desta vez o ciclo da cana chega forte no sudeste Brasileiro com o biodísel (álcool). O mesmo ciclo já foi forte com a cana de açúcar no nordeste, agora ela se instala definitivo no sudeste brasileiro e caminha a passos largos rumo ao centro oeste do país.
Podemos fazer com que o ciclo da cana se desenvolva com tecnologia dentro dos padrões ecológicos, basta que as alteridades façam cumprir as determinações vigentes na lei, e assim, podemos ter uma atividade ecologicamente viável, com menos danos ao meio ambiente.
Em comentário sobre o assunto, o também professor Naldo Ferreira Alves, dá o exemplo de outras cidades que há tempos vêm plantando cana-de-açúcar (cultura que, pela significação econômica, alguns chamam de ouro verde) deve ocupar terras hoje não bem aproveitadas, aumentando o nível de emprego e fazendo circular mais dinheiro na região, e isto, é uma conseqüência benéfica. Por outro lado, o professor Naldo analisa o outro lado da cana, a migração de pessoas que vêm de outras regiões do país, principalmente do Nordeste. Sabemos que a cultura ainda emprega grande número de mão-de-obra para o trabalho nos canaviais.
O professor Carlos Manoel de Oliveira, também deixa claro que a empregabilidade na cultura da cana de açúcar é um tema muito discutido, mas sabe-se que o corte de cana manual está com os dias contados. O plantio já é feito por máquinas, e a colheita já está sendo feita com excelentes resultados, por isso não creio que haverá um alto índice de marginalidade e problemas sociais.
Mas o professor Naldo consegue ver de outro anglo esta situação e diz que, boa parte dos que vem para o trabalho na safra acaba ficando aqui, e ainda incentivam a vinda de outros familiares. Conseqüentemente, esta migração aumenta a oferta de mão-de-obra menos qualificada e provocam desemprego, pois a cana não absorverá essa mão-de-obra nos períodos de entressafra.
A migração de mão de obra já é uma realidade no setor, e seus impactos, já estão sendo calculados. Mas, vivemos no período de outro problema, o êxodo dos proprietários de terras. Este fato acontece porque as usinas tendem a arrendar as terras para o plantio, obrigando os proprietários a abandonar suas atividades por um período de 5 ou mais anos. Em seguida começa acontecer com outros proprietários vizinhos em volta aumentando sua área de plantio e assim possam lucrar com a cultura e com a produção de açúcar e álcool.
Com relação à substituição das culturas alimentícias pela cana, não acredito que será um problema. Temos quase 220 milhões de hectares de pastagens degradadas e é para lá que a cultura deve ir. No entanto a pressão inicial existe, pois se trata de algo novo na região, como foram as culturas de café e soja no Cerrado Brasileiro. O mercado deverá zonear a cana de açúcar em seu devido lugar.
Vejo que os outros setores do agronegócio vão ser afetados, mas por algum tempo, até que as outras atividades do setor também se normalizem a nova realidade do mercado.
* José Carlos da Silva, engenheiro agrônomo, professor do Curso de Gestão em Agronegócio do UNIARAXÁ, doutorando.
Leia + Especial
|