Beatriz na Corte

Quando a coroa de Espanha
Uniu-se à de Portugal
Realizou-se em Castela
Um grande festim real.

Pois o Rei D.João Segundo
Desposou Dona Isabel
Infanta de Portugal
Princesa jovem e cruel.

Levara Dona Isabel
Para a Corte de Castela
Deslumbrante comitiva
De excelentes donzelas.

Para Dama de honor
Escolhera Beatriz
Jovem de rara beleza
E de maneiras gentis.

Além de ser sua prima
Era muito graciosa
Adornada de virtudes,
Meiga, atraente e bondosa.

Dotada de encantos físicos
E qualidades morais
Seus olhos cor de esmeralda
Brilhavam como cristais.

Unia a esses encantos
Maneiras nobres, gentis
E todos se inclinavam
Diante de Beatriz.

Pois dela irradiava
Um quê, de celestial
Era consolo de todos
Seu coração virginal

Nas festas palacianas
da corte de Tordesilhas
Trajava vestes pomposas
E cintilantes mantilhas.

Usava ricos adornos
Conforme sua nobreza
E tudo contribuía
Para aumentar sua beleza.

E começou a grande luta,
Uma batalha cruel
No coração ciumento
Da pobre Dona Isabel.

Arquitetou finalmente
Assassinar Beatriz
E pôs em execução
Este seu plano infeliz.

E alta noite Isabel
Rugindo como um leão
Foi sepultar Beatriz
Dentro dum grande caixão.

Queria eliminá-la
Por morte d'asfixia
Mas Beatriz recorreu
A doce Virgem Maria.

E sua negra prisão
Foi logo iluminada
Pela celeste visão
Da Virgem Imaculada.

Saiu ilesa portanto,
Do mortuário caixão
Por singular privilégio
Daquela doce visão...

E Beatriz afastou-se
Da corte de Isabel
E dedicou-se ao serviço
Da soberana do Céu!

                 Novembro de 1969