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Seções » Dicas de Beleza Incorporando o poder dos aromas À meia-noite, completamente aberta, a flor Hoya atinge seu ápice de qualidade e lança na atmosfera uma estonteante mistura de aromas florais com nuances de chocolate e cacau, combinados como notas de uma sinfonia. Exceto por algumas espécies animais que podem apreciar este momento, e guardá-lo na memória olfativa, somente a indústria do perfume é capaz de capturar tamanha complexidade olfativa e, também, de sintetizá-la, arquivá-la e usá-la na composição de seus produtos. "Não apenas a quantidade, mas também a qualidade do perfume exalado pela flor ou planta pode depender da hora, um aspecto muito importante para a reconstituição de tais perfumes", explica o perfumista Roman Kaiser, que há cerca de 40 anos trabalha para a Givaudan, primeira indústria de fragrâncias e aromas no mundo. Esse suíço dedica-se a explorar florestas tropicais, em busca de novos compostos e combinações para a indústria do perfume, com o toque de um artista. A técnica headspace, desenvolvida por ele na década de 1970 e hoje praticada por especialistas em todo o planeta, consiste em absorver alguns microgramas de moléculas responsáveis pela produção de odores, seja de uma flor, folhas, cascas ou mesmo de cenários olfativos, como os cheiros de uma floresta ou de uma incrível doceria. O material coletado passa, já no laboratório, por diversas leituras químicas (cromatografia gasosa, espectrometria de massas e outras técnicas) que identificam as moléculas e proporções responsáveis por criar aquela identidade olfativa. Com a "receita" em mãos, Kaiser recompõe uma fragrância similar a original. Por vezes, o especialista precisa sintetizar moléculas únicas para compor uma nota. Apenas na empresa franco-suíça em que Kaiser trabalha, cerca de 1500 acordes (ou mistura de cheiros) já foram recompostos, dos quais cerca de 300 puderam ser utilizados em produtos. Forma-se, assim, uma verdadeira biblioteca olfativa, constantemente alimentada, sem que, para isso, seja preciso matar uma planta sequer. Isto porque no caso de uma flor, por exemplo, basta envolvê-la em um recipiente de vidro, adaptado ao seu formato, para que a bomba de sucção trabalhe de trinta minutos a duas horas aprisionando sua mistura de cheiros (acorde), responsáveis pela informação captada por nosso olfato. A alta sensibilidade do headspace evita que uma grande quantidade de flores ou materiais diversos, como galhos, folhas, cascas e outros, sejam necessários para produzir as fragrâncias. Para se ter uma idéia dessa economia, cem quilos de flores são necessários para obter um quilo de essências florais, como no caso do ylang-ylang, cujo rendimento é de 0,5% e custa no mercado mais de US$ 300 o quilo do óleo essencial. No caso do conhecido jasmim, o mesmo peso de flores produz apenas 300 gramas de essência e seu valor atinge US$ 2 mil por quilo. De quebra, a técnica contribui para a preservação do meio ambiente e amplia a gama de possibilidades para a indústria de perfumaria. Estimativas dão conta que pelo menos 10% das espécies da flora mundial estejam em perigo eminente de extinção e, junto com elas, seus odores. SEM LIMITES Roman Kaiser trabalha atualmente no livro Vanishing flora lost chemistry que será uma compilação das composições químicas das fragrâncias e informações adicionais sobre flores e plantas de florestas tropicais, obtidas em 25 anos de explorações da equipe do perfumista. Germana Barata
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